quinta-feira, novembro 27, 2008

Publicidade com neurónios

A prova de que a publicidade não é só poluição visual, lixo a entupir a caixa do correio ou atentado ecológico.
As que surgem aqui constituem um excelente exercício de criatividade e produzem um efeito imediato e impactante.




Campanha contra a exclusão, Cidade do México: "Somebody lives with HIV. Nobody wants to play with him. Be like nobody."


Terapia de choque para condutores sedentos.



Grande lebre! Assim nem eram precisos transportes.


Home sweet home!


Aquando do lançamento do filme dos Simpsons, em Inglaterra.
Homer Simpson, igual a si próprio, no lançamento do Donut.
Haja pontaria!



Esta marca insiste que o seu som é real. E o mau hálito?!


"You eat what you touch"
Prefiro o inverso.



Forte! Muito bom.


Publicidade subliminar no seu melhor.





Humor negro (Eh, eh, mas com dentes!)



A higiene é inimiga do planeta. Urge encontrar alternativas.
Antes badalhocos mas vivos!

segunda-feira, novembro 24, 2008

Femina

Peter Adams


Dale Jordan


Alex Kristov


Três visões distintas, e na minha óptica belíssimas, do corpo feminino.
Não vale a pena questionar a minha orientação sexual, quando muito o meu narcisismo enquanto fêmea. E a escassez de imagens similares de corpos masculinos. Pudor absurdo dos machos? Lacuna dos fotógrafos? Falta de aderência do público feminino? Não sei. Se calhar as minhas deambulações é que não têm sido frutíferas...
Acima de tudo, tributo ao árduo percurso das mulheres, cuja travessia na conquista de uma posição igualitária tem sido notável. Parte deste êxito deve-se contudo, e convém ressaltá-lo, ao contributo de tantos homens que fazem jus a essa denominação.
Sinto-me grata por viver no século XXI, apesar de umas quantas arestas que ainda é preciso limar.

Walter Raes

Espreitadela ao irrequieto universo do design

Lord S
ou uma visão pragmática dos cestos de compras


The 1960's Coat Stand
ou como um poste desgrenhado também pode ser útil

Bored Housewife Throne
ou a desnecessidade de comentar o óbvio

Brainstorming invernoso

É fantástico sentir saudades daquilo que nunca se experienciou. Vêm-me desejos súbitos de neve abundante, quando nunca vi tombar do céu mais do que tímidos flocos que a custo atapetaram o chão de branco. Mas já vi nevar em Paris, cidade que mais vezes visitei e da qual sinto ganas permanentes, sem também perceber de facto porquê.
De onde fluem estes ímpetos? De anteriores encarnações? Seria estrondoso e apaziguador acreditar em tal.
Caramba, que sede de viajar!

(foto Julien Roumagnac)

quinta-feira, novembro 20, 2008

Fêmeas



Deambular pela Net traz destas surpresas. O autor destas fotos é Cristophe Gilbert.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Nick Veasey

Uma outra forma de olhar o real. Em pleno século XXI é difícil inovar. Tão somente por isso, é de tirar o chapéu ao seu autor. E esteticamente também resulta, na minha óptica.


Tal pai, tal filha. Similares na estrutura interna, distintos no carácter. É tudo uma questão de coluna vertebral.

Todos diferentes, todos iguais. Tenda de campismo colectiva. Que incómoda promiscuidade... Emigrem vizinhos!

Mau grado o momento, que nunca nos falte o glamour.

Outra visão dos transportes públicos. Bem mais lúdica e menos odorífera. Que utopia!

Esticaram o dedo errado. Que bem comportados! São, por certo, ossos portugueses.

Ruído, ferrugem e mais do mesmo


Disse textualmente, e eu atrevi-me a pontuar, Manuela Ferreira Leite: "Eu não acredito em reformas, (aqui é um parênteses, nitidamente) quando se está em democracia, quando não se está em democracia, é outra conversa: eu digo como é que é e faz-se! E até não sei se a certa altura é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia, bom!... Agora, em democracia, efectivamente, (retomada da ideia inicial) não se pode hostilizar uma classe social, ou uma classe profissional, melhor dizendo, para de seguida ter toda... ter a opinião pública contra essa classe profissional e então depois entrar a reformar, porque nessa altura estão eles todos contra."
É óbvio que a sintaxe não é o forte da Dra. Ferreira Leite. Daí até à palhaçada que se instaurou hoje na comunicação social e no teatro político, vai uma distância abissal! Penso que se trata, para não variar, de meras manobras de diversão para distrair a atenção do que é fulcral nesta mensagem, a saber: a prepotência, o autismo e a mão de ferro com que José Sócrates pretende desgovernar este país; os novos significados que contraiu a palavra negociação em Portugal, que agora significa, após o desacordo ortográfico em versão revista e piorada por Maria de Lurdes Rodrigues, "eu negoceio impondo, tu obedeces e não bufas, eles imitam-te abanando o rabo". Ou será que estes vetustos indivíduos, que tanto se excitaram com esta mensagem, têm problemas de compreensão da língua materna decorrentes da leccionação ineficaz de docentes do atrasado, profissionais que não eram ilegalmente avaliados pelos seus pares, ou seja, por indivíduos que são parte integrante e interessada de todo o processo? A propósito desta questão, e para os cépticos que continuam a achar que a ministra tem razão e que este modelo deve avançar, aqui vai a respectiva informação legal retirada do Código do Procedimento Administrativo, sendo que esta é apenas uma das múltiplas pontas do icebergue:SECÇÃO IV
Das garantias de imparcialidade

Artigo 44º
Casos de impedimento

Nenhum titular de órgão ou agente da Administração Pública pode intervir em procedimento administrativo ou em acto ou contrato de direito público ou privado da Administração Pública nos seguintes casos:
a) Quando nele tenha interesse, por si, como representante ou como gestor de negócios de outra pessoa; (...)
Ora o avaliador, em quem foram delegadas competências, tem em mãos um caso de impedimento, uma vez que, sendo candidato às mesmas quotas, tem interesse directo no acto.
Ainda assim, e voltando atrás, é pena que a Dra. Ferreira Leite, cuja passagem pelo Ensino e pelas Finanças também foi pautada por um enorme espírito anti-democrático, não use o seu muito característico despotismo para arranhar o PS e fazer uma oposição condigna e construtiva, coisa que até agora não vimos minimamente. Ou a senhora está a esmorecer com a idade ou só canta de galo quando está no poleiro. Assim também eu!!! 

sexta-feira, novembro 14, 2008

Gavetices


Há dias em que sinto também este ímpeto. Enfiar-me numa gaveta e permanecer bem quieta, enroladinha e em silêncio. Geralmente ocorre-me quando trabalhar é mesmo uma tortura, ou ver caras pouco amistosas um suplício, ou quando sei que vou ter que fingir interesse por conversas absurdas e ridículas, ou simplesmente quando a ideia de ter que interagir com outros seres humanos é demasiado penosa.
Há quem deseje os lençóis de linho, como o Camilo Pessanha, ou enfiar a cabeça num balde, como o Pessoa. A mim apetece-me simplesmente engavetar-me, visto que já passei a idade do armário. E ficar bem arrumadinha, ali esquecida, até que as nuvens negras dêem lugar a um sol luminoso, quente e doce.

(foto Alison Brady)

terça-feira, novembro 11, 2008

Está na hora!

"Está na hora, está na hora, da Ministra ir embora!" Irra! Adeusinho e até nunca mais!
Eu também lá estive, na maior manifestação de sempre de uma classe profissional em terras lusas. Nunca me tinha encontrado no meio de tão genuíno mar de gente, apesar de gostar futebol e de ser assídua em mega-concertos musicais. Porém, em nenhum momento me senti claustrofobizada ou amedrontada. A educação da minha classe profissional honra o seu título de professores, indivíduos que demonstram o que é o civismo de forma exemplar. Pessoas desiludidas perante o autismo e a prepotência de uma criatura inqualificável, para quem expressões como orgulho, brio ou vergonha no trombilo nada significam. Nunca assisti neste país a um tal enxovalhamento de um membro governamental, nunca vi ninguém mentir com tal descaramento, nunca conheci alguém que perante uma tão incontornável manifestação de desprezo não percebesse que era tempo de virar as costas e de esperar pelo anonimato apaziguador. Que incrível masoquista, esta Sra. Lurdes! Não sou do tempo do Salazar, mas creio que esta Salazarenta vai ficar para a História como uma nódoa talvez ainda mais negra, odiosa e odiada.
Por isso a chuva de ovos com que foi hoje alvejada em Fafe encheu-me de alegria! Bravo aos alunos! Parabéns ao Norte! Lamento não ser ainda estudante, pois teria lá estado era com estrume, revivendo os tempos áureos da vida académica em que, no cortejo de estudantes lisboetas, os tipos de agronomia nos presenteavam com excrementos de diferentes bicharocos. Coisa saudável, muito ecológica e biodegradável, como está em voga. A César o que é de César!
A minha paciência esgotou-se! E felizmente não estou só. Os representantes dos encarregados de educação com quem me cruzei por estes dias nas reuniões intercalares estão ainda mais indignados. Perceberam finalmente a falácia de um sistema que, em troca de resultados aceitáveis e de estatísticas que salvem a honra do convento, falseia a realidade e os presenteia com filhos semi-analfabetos em pleno ensino secundário. Perceberam por fim que esses filhos estão condenados ao insucesso pois não têm pernas para andar, a menos que o 12º ano passe a ser a escolaridade obrigatória e cheguem então alunos semi-analfabetos às universidades portuguesas. Resta saber que factura pagará o país por tais desmandos num futuro próximo...
Chega! Morra a Lurdes, morra, pim! (grande Almada Negreiros!) Está na hora, está na hora, da Ministra ir embora! Vai Sra. Lurdes! E leva o Fócrates contigo!

(foto de Martin Andreasen)

A Ministra antes da Manif

Se lermos as legendas com atenção, constatamos que são ditas grandes verdades de forma satírica e bem humorada. E nunca o humor foi tão necessário para encarar este clima de insanidade que se instalou ultimamente no nosso dia-a-dia.
Percebemos também que todos os ditadores têm algo em comum: são odiosos e feios!

quarta-feira, outubro 29, 2008

A luta continua!




Nada como uma boa movimentação para reanimar os ânimos! O boicote à avaliação da carreira docente começou e promete avançar em força. Menos mal. Entretanto seria maravilhoso deitar a Sra. Lurdes em qualquer destes belos sofás. Porém as cobras ou lhe chamavam mana ou morriam envenenadas ao picá-la. O fogo por certo que se apagaria com tamanha frigidez. Os ovos ficavam automaticamente chocos, o que seria imoral dada a fome no mundo. E os cactos murchavam, ficando inofensivos como rosas secas.
Não foram só as férias que me desabituaram de ser um Bicho Bravo. A verdade é que trabalho tanto que o pouco tempo que me sobra é canalizado para outras actividades. Só quem está no ensino pode genuinamente entender aquilo de que falo. Estamos afogados em burrocracia, submersos em testes, sufocados por centenas de alunos cuja formação está nas nossas mãos (eu disse centenas! Tenho cento e quarenta e oito alunos e tento ensinar trinta pessoas completamente díspares e de várias nacionalidades em simultâneo). E a cereja no topo do bolo é que somos agora vigiados por criaturas cinzentas, pidescas e medíocres que decidiram de repente ser lacaios da ministra (visto que até então nunca tinham sido nada!) e que vão parindo reuniões sistemáticas a ritmo alucinante e exigindo toneladas de documentos que se enfiam em dossiers e ficam a ganhar mofo até serem deitados ao lixo, visto que de lixo não passam. E todos os dias chegam novas directrizes mais castradoras e absurdas, desfasadas da realidade, anedóticas mesmo. Já passámos por diferentes fases: a da indignação, a da acomodação, a da revolta, a do hilaridade... Creio que finalmente chegou a da luta. Quero acreditar mesmo, senão não encontro forças para levar a cruz ao calvário.
Mas as manobras de diversão continuam. A máquina não pára! Agora é a distribuição jorrante de Cagalhães e a interiorização de que caminhamos para o desenvolvimento tecnológico. Quem acredita ainda? Estou em crer que só os mais distraídos ou desinformados, o que é bastante frequente ainda em Portugal. Pois desenganem-se os que pensam que a qualidade do ensino melhorou ou que os professores são um bando de preguiçosos que se borram de medo de ser avaliados. Como consta já neste blogue, eu sou a favor da avaliação. Contudo, jamais nestes moldes persecutórios, arbitrários e ilegais. Nenhuma outra classe é avaliada desta forma e, se tudo correr pelo melhor e as pessoas continuarem a prezar a verticalidade que nos descolou as patas do chão e nos prendou com mãos, a Sra. Lurdes não vai levar a sua avante. A diarreia mental que se apossou do Ministério da Educação, e que nos tem salpicado a todos com maior ou menor intensidade, vai ficar a arroz e bananinhas para ver se estanca. Múltiplas têm sido as escolas a aderir ao boicote e estou em crer que, desta feita, o movimento não vai parar.
Se alguém se julgar no direito de contestar estas palavras faça-me apenas um favor: informe-se, documente-se, fale com propriedade. Para exibições de ignorância alarve já nos chega o beberrão do Sousa Tavares!
Até há relativamente pouco tempo tinha muito prazer e orgulho na minha profissão. Nunca me queixei de nada nem de ninguém. Consegui sempre investir na minha formação pessoal (é preciso receber para poder dar), dinamizar múltiplas actividades extra-curriculares ao longo do ano lectivo e exibir um real semblante de satisfação. Hoje sou alguém que trabalha por obrigação, que anseia pelo fim-de-semana e pelas férias e que apenas nada alterou com os seus alunos, pois trabalhar com seres humanos tem esta contrariedade: não podemos mandar tudo às urtigas. Senão a Sra. Lurdes ia enfiar as suas demenciais directrizes no buraco mais estreito que tivesse no corpo e arranjar outra vítima sobre quem descarregar as suas, por certo, cavalares frustrações.

quinta-feira, junho 12, 2008


A solidão escorria dos olhos do cão. Era miudinha, quase imperceptível, como a primeira chuva de Outono que nos embala no aroma da terra. E feita de inúmeros retalhos cosidos pela mão do tempo, alguns coloridos e limpos, outros esfarrapados e negros.
Em tempos soubera sacudi-la como água que lhe ensopasse o pêlo. Ladrava para intimidá-la, mordia para que fugisse ou escavava o solo para a enterrar.
Agora deixava que esta o possuísse de mansinho e se transformasse numa árvore lilás de ramos finos, muito bela na sua tristeza.
O cão aprendera a entregar-se à sua sorte, ao ritmo improvável das coisas que lhe aconteciam por alguma razão, à melancolia de querer desfiar as estrelas e não ter por companhia senão a própria sombra.
Apesar de não estar sozinho, o cão estava tão só que a solidão transbordava e escorria dos seus olhos, formando pequenos mares de prata que lhe devolviam a sua imagem.

(foto Gavin Mullan)


sábado, junho 07, 2008

Euro 2008


Não gosto de dirigentes políticos que querem distrair o povo das suas reais preocupações e maleitas e que para tal recorrem de forma abusiva e manipuladora ao futebol. Não gosto do endeusamento de comuns mortais que chutam com mestria um esférico, alguns tão comuns que até aflige! Enoja-me o aproveitamento da comunicação social, a quem só falta revelar a cor das cuecas dos jogadores após nos presentear com a marca de champô do Miguel Veloso ou as intimidades da diva do Ronaldo. Escandalizam-me as quantias pornográficas que envolvem o mundo da bola quando metade do mundo sofre privações desumanas. Detesto as bebedeiras violentas justificadas com derrotas ou vitórias e o estado de fissuração absoluta que se instala no povo no decurso do Euro ou do Mundial.
No entanto, adoro futebol! A adrenalina que nos corre nas veias, a explosão de alegria provocada pelos golos, as tácticas e as mudanças de táctica, os rasgos individuais surpreendentes, o ritual de ver o jogo com amigos, cervejolas e petiscos, a euforia apaziguadora da vitória.
Portugal estreia-se hoje. Boa sorte e muita pica para a Selecção das Quinas! Dêem-nos alegrias e bom futebol!

quarta-feira, junho 04, 2008

Conversa da treta


- Vê lá se gostas do meu soutien? - atira a loura cinquentona para a trintinha meio hippie, pequenina e branquela, algo infantil. Usualmente seria afastada alguma roupagem para que se pudesse espiar o dito. Mas não, ela é mais do estilo Zás, tudo ao léu!, e lá empina o decote imenso da blusa de lycra transparente para que assomem duas bolinhas rendadas, ironicamente tímidas por comparação à dona e às regueifas que lhe escorrem da cintura.
- É mais giro do que o de ontem - avança logo o gorducho dos dentes calcinados com olhar guloso. É novo mas cheira a mofo.
- Não acho - opina a trintona grossa e bem tratada, olhar directo - De qualquer modo todos te gabam a lingerie, não vale a pena perguntares. Nem precisas de esperar que o teu gajo se digne reparar nela.
- Qual gajo, qual quê? - contrapõe a hippileca com ar furibundo e sotaque transmontano - Interessa a alguém o que é que os gajos pensam ou não? Competência e tamanho e não se pensa mais no caso.
- Ei, que mau feitio - arrisca o barrigudito vermelhusco - És uma tipa bué insensível. Até parece que estás a falar de um objecto.
- Digo-te já man, esta é a era das mulheres - entusiasma-se a Miss Yoko Ono - Qualquer dia quem precisa de cotas nas empresas e na política são vocês. Nas faculdades estamos em maioria. E no sexo também. Temos orgasmos múltiplos caraças! E gajos para chatear e coser as meias passo. Gosto é de amantes. A parte boa para nós e a seca para a tipa que o atura. Dou-me mesmo bem. Amantes é que rende! - reafirma com convicção numa fala cheia de sibilantes.
Espanta-me o antiquado da palavra na boca daquela self made woman à século XXI. Entretanto o banhocas engasga-se e fica ainda mais vermelhusco, mas de bico calado. E a trintona emerge do limbo e diz com ar enfadado:
- Pá, fui ontem à feira do livro e queria um autógrafo do Sousa Tavares. Nem imaginam a fila que lá estava. Havia gente com livros trazidos de casa e tudo. Havia até quem tivesse fotografias de quando o tipo era novo para ele autografar. Uma macacada. Já estava farta e perguntei a uma mulher quantos é que tinha. Mostrou-me seis. Bem, passei-me e disse-lhe que tinha de estar na empresa dali a quarenta e cinco minutos e que ela me podia deixar avançar. Sempre era menos uma. E não é que a tipa teve a lata de me dizer que não dava porque tinha de ir ao cabeleireiro? Que porra! É só gente estúpida!
- Estúpida é a nova secretária do patrão. Já viram como é que ela abana o cu? Deve andar numa de escalada na horizontal - funga a loura entre dentes com ar nostálgico, talvez invejando a sorte da outra.
Enfio mais o nariz no meu livro e tento concentrar-me. Não há cu que aguente!
- A mim o que me chateia é a greve dos pescadores pá. Não como carne e agora ando com medo de comer peixe. Só congelado. Há quanto tempo é que os gajos não pescam? - inquire a hippie.
- Este país é tão mau de governar que nem com maioria lá vai. É sempre a mesma treta! - resmunga a loura.
- A política não interessa népia - rosna a hippie.
- Bolas, parti uma unha - diz a trintona.
- Isso não é nada. Estes sapatos novos lixaram-me os pés todos - resmunga o pipudo.
Acabam mesmo é de lixar a minha escassa paciência seus autistas acéfalos, penso. Piro-me daquela carruagem a sonhar com a hora de recolher à toca para recarregar baterias e tentar não estupidificar de vez. Bons tempos em que se falava de livros e cinema e teatro e música e política. Apesar do espírito ecológico e do preço da gasolina, acho que não ando de comboio tão cedo. Irra!

(foto de Pedro Gonçalves)

segunda-feira, junho 02, 2008

Dias difíceis


A Sra. Lurdes, vulgo Ministra, premiou-nos com mais uma pérola! Foi ao Rock in Rio e, quando interpelada sobre a sua presença no local, disse que queria ver o Rui Veloso. Hilariante!
Quanto ao Macário Correia tem-se saído muito bem no que diz respeito à gestão das verbas para combustível. Há bastante tempo que existem polícias a circular de bicicleta em Tavira, o que é salutar para o ambiente e para os olhos femininos pois os rapazes, regra geral, são giraços. Entretanto a Câmara começou hoje a abastecer a sua frota automóvel nas bombas de gasolina espanholas, tendo Macário garantido que com esta medida conseguirá poupar cem mil euros ao ano. "Esta manhã já abastecemos um autocarro numa bomba do outro lado da fronteira", disse este, contabilizando em 120 euros o que a autarquia vai poupar em cada depósito de combustível
de um veículo pesado. Parabéns pelos tomates! Resta saber qual a reacção do nosso Primeiro, principalmente nesta fase penosa em que tenta, segundo nos fez crer, libertar-se do vício do tabaco. E nós, onde é que vamos abastecer-nos? Até porque, pelo que me é dado observar, o boicote à Galp tem sido boicotado pelos próprios interessados que aí se continuam a abastecer. Povo bovino e estúpido que não sabe lutar pelos seus direitos!
Entretanto a minha solidariedade vai para a luta dos pescadores. A sua greve vai manter-se por tempo indeterminado até que o Governo tome "medidas de carácter urgente e imediato que salvaguardem as regras concorrenciais com os congéneres de Espanha, Itália e França". Solicitam a criação de "uma plataforma de entendimento com os governos desses países que possa criar uma ‘task force’ de pressão institucional e política junto da comissão para alterar as suas regras". Enquanto isso, "Cavaco Silva apela à boa vontade dos dois lados" neste diferendo (quem é esta figura decorativa?!). Afinal a pesca não devia ser à partida um dos sectores mais privilegiados e explorados neste país à beira-mar plantado? Ou eu não percebo nada disto ou esta história de se ir dando sistematicamente cabo do pouco que temos está prestes a terminar, pois a agricultura é o que se sabe e a indústria está de rastos. Que nos sobra? Rezar para que nos vendam de uma vez a alguém competente que não nos explore tanto, não nos roube tão descaradamente e nos proporcione melhores condições de vida?
E nem de propósito, lê-se no Público que
"em virtude da intensificação da acção do Tribunal de Contas foi detectada despesa pública irregular nas auditorias realizadas acima de 800 milhões de euros, nos vários níveis da administração - central, regional e local", revela o relatório hoje divulgado. Entre as situações irregulares encontram-se pagamentos não orçamentados, pagamentos com recurso a operações específicas do Tesouro e transferências de municípios para empresas públicas municipais com um instrumento legal "desadequado". Sem comentários!
Algo do que aqui é reportado interessa à maioria dos portugueses? Duvido! A masturbação psicológica com a Selecção Nacional sobrepõe-se a tudo o resto, embalada pelos sons dos festivais de Verão. E ainda não há praia, senão é que as lusas avestruzes só desenterrariam a cabeça da areia no final da época balnear para pensar nas compras de Natal!

(foto Petr Pazour)

quinta-feira, maio 29, 2008

terça-feira, maio 27, 2008

Fez-se luz!


Vamos dar como ponto assente que me encontro numa fase de perfeita tonteira! Continuo a ter neurónios, é certo, pois todos os dias às oito da manhã, hora imprópria para um bicho noctívago e deambulante estar fora da toca lavadito e apresentável, espremo o meu cérebro, afivelo o meu melhor sorriso e enfrento as feras. Estão ainda adormecidas e derramam-me olhares bovinos em frente às mesmas mesas das mesmas salas por onde passei há bem mais de uma década atrás. Esforço-me então, como é hábito, por acordá-las com uma cronicazita do RAP ou do MEC, uma notícia quente do jornal ou uma qualquer alusão ao Rock in Rio. Ainda assim há uma indolência invulgar que me adoça os movimentos e suaviza o tom de voz, o que as leva a fitar-me com olho matreiro e a incitar-me à dispersão, na tentativa vã de que a cavaqueira se prolongue para que as teorias cheguem mais tarde. Há uns dias e esta parte, admito, estou a acordar com elas e não a acordá-las a elas, variante que muito lhes apraz.
Caramba, a coisa anda mesmo parda! Começo por teimar esquecer que não se pode fumar no café da senhora bósnia, coitadita, que já não sabe que dentes me exibir para amareladamente me recordar que as espirais voluptuosas do meu cigarro não são bem vindas no seu balcão. É ali que trinco matinalmente umas parvoíces para enganar o estômago enquanto tento apagar do meu cérebro a imagem da cama macia e quentinha.
Depois também me ando a esquecer de puxar o travão de mão, o que não é grave porque o terreno é quase plano, só que o local é ventoso e o Verão foge de nós. Então outro dia, com a chuva tocada a vento, o Mustang já estava a querer ir embora sozinho. Eis que de seguida devo entrar a distribuir os bons-dias da praxe, mas qual quê, só tenho olhos para a maquineta que verte capuccinos e para o sofá mais longínquo do cubículo, onde me refugio à socapa dos interlúdios esganiçados da Velha Guarda. Não perco a hora porque tenho a vantagem de andar a toque de campainha, qual cãozinho do Pavlov, mas chamo Otília à Irene e Micas à Antónia e vou tentar abrir a porta da sala ao lado, com a dita a corrigir o nome por que atende e a vociferar que não é ali que devo torturar os meus jovens adultos, como estes agora se autodenominam (habituo-me ao acordo, de fininho!).
Pois é assim que estou por estes tempos no que concerne a arte de veicular saber a troco de uns famigerados trocos, congelados sabe-se lá até quando. Não se pense contudo que perdi o jeito, pois já são bons anos a saber como lidar comigo mesma para dominar o palco que diariamente me espera. É apenas uma fase peculiar e divertida, tipo à Mr. Bean, que ocorre porque um sol quente e luminoso se instalou no meu coração, coisa de que me desabituara há tempo. Em especial desde que a mãe partiu, o pai ficou macambúzio e parte do meu mundo desmoronou sem pré-aviso da noite para o dia por múltiplas e tristes razões.
Desejo que o sol não me queime, antes que me amorne lentamente, para que o sangue volte a circular fluido e me salte do peito a tábua que nele caiu. Tenho é que me lembrar de tudo o que me ando a esquecer no que toca às rotinas banais. E esquecer-me de tudo o que me andava a lembrar no que toca à minha vida. Parece-me bem.

(imagem de John Wilson)

sexta-feira, maio 23, 2008


Usurpei estas imagens ao Manu ( http://confra-rias.blogspot.com/) pois acho que é fundamental que estejamos unidos neste combate ao absurdo aumento dos combustíveis. Tenho recebido muitos e-mails nesse sentido, mas a boa da verdade é que nunca é demais bater no ceguinho. E acredito que se nos unirmos e lhe diminuirmos o lucro, a Galp baixa a garimpa. Temos a faca e o queijo na mão, como sempre. Pena é que os portugueses não percebam a sua força e não se unam para fazer valer os seus direitos.
Acorda Lusa gente! Chega de assaltos à carteira! Será que é desta?

sexta-feira, maio 09, 2008

Mundo cão!

A onda de violência xenófoba que assola a África do Sul há doze dias a esta parte dá que pensar. A livre circulação de bens e pessoas na Europa é um dado adquirido e chegam constantemente ao nosso país imigrantes de múltiplas proveniências. Há pelo menos dois milhões de pessoas estrangeiras a viver em Portugal com regalias e oportunidades similares às nossas, a disputar empregos, habitações e tudo o mais que é necessário para subsistir em condições minimamente aceitáveis.
No entanto também nós atravessamos uma época de crise bem dura: os preços dos alimentos, bens de consumo genéricos e serviços não cessam de disparar, os juros da habitação não param de subir, a gasolina atinge preços escabrosos e os salários há anos que
não aumentam proporcionalmente à crise. Cada vez temos menos regalias sociais, em particular na área da saúde, pagando impostos mais elevados do que aqueles que se praticam em nações evoluídas onde o nível de vida da população é superior. Somos assim um país cuja realidade tende a assemelhar-se à dos países terceiro mundistas, em que a classe média está em vias de extinção e a classe privilegiada floresce alegremente, dispersando-se pelos spas, pelas clínicas de estética e pelo turismo rural em carros topo de gama, ostentando roupas de marca e caras postiças. E os políticos incompetentes e laxistas, cuja taxa de absentismo na Assembleia da República é escabrosa segundo dados recentes da comunicação social, deixaram de nos fazer promessas e passaram a intimidar-nos, a calar os nossos protestos e a exigir-nos aquilo que não cumprem. Mantêm em contrapartida um nível de vida insultuoso, tendo em conta que ainda há, entre tantos exemplos chocantes, idosos a sobreviver com rendimentos de 150 euros mensais, e permitem-se as regalias e as bonificações que a nós nos interditam. Favorecem instituições bancárias e clubes de futebol, esquecem a Casa Pia depois de gastarem milhares aos contribuintes e querem que acreditemos que o único pedófilo português é o Bibi. Apregoam a falência da Segurança Social, cortam nas comparticipações dos medicamentos e dos exames médicos, demoram séculos a pagar as suas dívidas, mas continuam a cobrar-nos religiosamente a propina. Mandam-nos fazer rastreios periódicos, como o despiste do cancro do colo do útero, e acusam-nos de não vigiarmos adequadamente a nossa saúde. Porém são cada vez menos os incautos que realizam estes exames pela ADSE, por exemplo, o que significa que um exame de 2.05 euros pode custar ao contribuinte entre 45 a 120 euros, dependendo da gulodice de cada um. Enfim, se eu não tiver reforma quando a minha vez chegar, isto se não morrer antes ou não ficar demasiado podre para conseguir trabalhar, vou exigir os meus impostos com retroactivos no tribunal europeu!
Em suma: e se os portugueses também se lembrassem de escolher os imigrantes como bode expiatório? Se decidíssemos atacar os mais fracos por não termos força anímica nem coragem para atacar quem de direito? Seria bizarro, injusto e desumano, tal como o é na África do Sul. A classe desfavorecida não pilha as casas dos ricaços, não coloca bombas nos seus carrões, nos restaurantes de luxo ou nos hotéis por eles frequentados, nem assalta os bancos onde estes multiplicam os seus dividendos. Não, a classe desfavorecida vinga-se cobarde e desumanamente nos que se encontram em condições ainda mais precárias, nos indefesos, naqueles com quem devia solidarizar-se pois são seus iguais. Mas não. À semelhança dos grandes que lhes atazanam a existência e os reduzem à insignificância, atacam o elo mais fraco, quiçá para provarem o gosto da supremacia por escassos momentos, quiçá por impotência ou desespero.
Qual é então a diferença entre este nosso tempo de prodígios tecnológicos e avanços científicos e a época medieval? É óbvio que, acima de tudo e tal como sempre, vivemos num mundo cão!

quinta-feira, maio 08, 2008

Ficcionando em voz de mim


Os olhos são tão negros e profundos como um mar revolto onde seria fácil naufragar, empurrada por carícias de longas e suaves pestanas. É raro fitá-los mais do que fugidiamente por esse medo de não vislumbrar retorno de tal viagem. Já as mãos são esguias, de dedos longos e suaves que deslizam maciamente. Movimenta-se como os felinos e tal como eles ataca: primeiro com subtileza mansa, para de súbito imobilizar a presa com um rasgo inusitado que derruba as defesas e convida à entrega espontânea. Vive encerrado na sua torre de marfim, que visualizo azul e nublada, vigiando com olhos húmidos aqueles que por qualquer detalhe se tornaram alvo da sua rara atenção. E fá-los embarcar numa imprevisível caminhada até que percebam que a torre é muito alta e que as portadas não abrem e que um telhado a pique pode certamente conduzir a uma espinha quebrada. Porém, o que lhe permite conduzir os seus jogos com certeira destreza é um impensável pendor masoquista: desejo de plenitude. E isso é-me demasiado familiar para o não compreender. Aí então é que tudo atinge uma dimensão única de tão similar.
Quero açúcar nos meus ossos!

(foto Julien Roumagnac)

terça-feira, abril 22, 2008

Abril do nosso descontentamento


Várias figuras do PS assinaram um documento emitido pela Associação 25 de Abril, que apela à participação no desfile do 25 de Abril e faz uma análise crítica à situação do país. O "Apelo à Participação", divulgado ontem pela Associação em questão, conta com a assinatura de diversas figuras do PS, entre os quais Mário Soares, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues, Almeida Santos ou Maria de Belém Roseira. Ao longo do documento pode ler-se que "as incertezas de uma conjuntura económica, afectada pela eclosão e desenvolvimento de várias ordens de crises e, no plano interno, pela permanência dos problemas estruturais de que o país continua a padecer, fazem com que as comemorações do 25 de Abril de 2008 se processem num clima pouco desanuviado e escassamente propício à jubilação colectiva".
"Numa altura em que os diversos índices sociais e económicos continuam a remeter-nos para os últimos escalões da Europa Comunitária, não poderá haver lugar para o enfraquecimento dos serviços que cabe ao Estado assegurar", refere ainda o manifesto emitido pela Associação 25 de Abril.

Público
on-line



Hoje há autocensura, pior do que a censura. Há medo instalado nas pessoas e falta de coragem para exercer a liberdade de expressão.


António Marinho Pinto, Correio da Manhã


Parece que a velha guarda do PS não se enquadra no grupo dos tementes Socretinos acima referido. A ver vamos se não lhes sai o tiro pela culatra, pois hoje em dia estamos preparados para assistir a toda e qualquer manifestação de prepotência por parte do Executivo. Até seria delirante se o PS entrasse numa crise interna, à semelhança do seu mais directo rival, o actual PSD, agora também conhecido como Partido Sem Dirigente. Podia ser que todos nos convencêssemos, e eu já o estou, de que este país não tem quem o governe, só quem o desgoverne e, desta feita, com pata de ferro em cima de quem trabalha. Toca a bulir e bico calado, senão... Se calhar um dia destes estamos a voltar ao Limoeiro! Pode ser que assim surjam poetas, iluminados, mártires, gentes cheias de empenho para melhorar a nossa jangada de pedra que tão à deriva e tão pobre de cérebros se encontra.



quarta-feira, abril 16, 2008

Peculiaridades lusas (versão automobilística)


Interrogo-me muitas vezes:
- Por que razão há lombas nas subidas? Irra!
-
O que leva os condutores a acelerarem em cima dos semáforos que disparam com a velocidade de modo a que tenhamos que parar gratuitamente enquanto eles se piram? A boa e velha versão do "Toma, toma!"?
- Qual é a lógica de encontramos tantas passadeiras a seguir a curvas? Matar mais e melhor?
- Por que razão os automobilistas aceleram quando queremos entrar num cruzamento para abrandarem logo de seguida? Fossangueiros!
- Por que motivo as senhoras condutoras raramente agradecem uma gentileza que lhes façamos? Serão de Hollywood?
- Por que cargas de água os peões nos obrigam a parar com ar indignado quando não há mais nenhum carro atrás de nós? Será que pensam "Aguenta ó tu que andas de cu tremido!"?
- Que diabo têm na cabeça os tipos que atravessam a passadeira a tourear os automóveis com ar de matadores? Ou aqueles que empurram meio metro o carrinho do bebé para nos assustarem? Ou os que desfilam como se estivessem na passadeira vermelha do Teatro Kodak em noite de Óscares? Brita e serradura no lugar de miolos!
- Será que os donos dos cães que os deixam urinar nas jantes dos nossos automóveis não têm veículo próprio? Ou será que os enfiam sempre na garagem? "Alivia-te aí bicho que é melhor do que lá na sala de estar!"
- Por que razão inventam tudo para nos extorquir o nosso parco dinheirito, nomeadamente os parquímetros e a limitação de uso dos mesmos? E com que justiça nos multam quando não temos moedas ou ultrapassámos o tempo limite por estar a enfrentar a broca do dentista? "Passa p'ra cá a guita e não bufes!"
- Por que motivo temos de pagar parque quando vamos à praia? Já não chega enfrentar o trânsito, pagar as casas de banho, o guarda-sol, as cadeiras, o jornal, o protector, as gaivotas e a bola de Berlim?
- Qual é a lógica de nos bloquearem a roda do automóvel e de nos obrigarem, por acréscimo, a ter telemóvel para efectuar uma chamada que pode tardar a ser atendida e é a nossa única hipótese de resolução do problema? E se for de noite num sítio perigoso? E se estivermos numa situação de emergência? E de nos fazerem depois esperar um mínimo de duas horas por não haver pessoal suficiente para dar vazão à tarefa de desbloquear rodinhas? E de nos forçarem ainda a ter cartão multibanco para pagar? Já agora, que tal pagar as multas via Internet? Os idosos agradecem!
- Para que servem as inspecções automóveis se andam por aí chassos a desmontar-se e a poluir o ambiente à força toda? Ah, claro, o desalinhamento de
cinco milímetros dos faróis dianteiros é muito mais nefasto!
- Por que motivo os polícias não embirram com as motas de escape solto que nos massacram o cérebro e lixam os tímpanos? Terão acordos com otorrinos?
- Como é que há canais televisivos que entrevistam autores de carjacking com máscaras e voz distorcida? Serão primos deles?
Viva os transportes públicos, as bicicletas, os carrinhos de mão e os de rolamentos!
Viva o ambiente!
Viva o boicote à subida chula dos combustíveis!

(foto da Expo, Jardim da Água)

Senhor, falta cumprir-se Portugal!


SEGUNDA PARTE: MAR PORTUGUEZ

Possessio maris.

I. O INFANTE


Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portuguez
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!




Mensagem
, Fernando Pessoa


(quadro de Salvador Dali
, A Persistência da Memória)