sexta-feira, outubro 27, 2006

Espanta espíritos


A vida é um campo minado onde abundam as sanguessugas do alheio! Elas nunca nos olham de frente, mas chupam-nos a energia anímica com subtilezas ardilosas e deslizam suavemente para outras paragens. São criaturas sórdidas e medíocres que tentam apoderar-se da nossa criatividade para contornar a sua impotência de viver em pleno, vigiando-nos cada passo na expectativa de obter algum proveito. Minam-nos a existência de forma tão subtil que mal damos pela sua presença. Mas sentimos, ainda assim, os seus efeitos nefastos! Deixam-nos a ressacar um colo quente, claridade, ondas do mar... festas de dedos tão suaves que mal nos afloram a pele, mas que nos tocam as fibras mais pequeninas do coração e nos enchem de luz!

Cabe-nos então a nós, bichos bravos, colocar-lhes um travão e remetê-las à sua condição comezinha de meros espectadores sem voz, tristes fantasmas incómodos e dispensáveis. Esta é a nossa primeira cruzada! Denunciá-las, apontá-las a dedo, espantá-las! E sentir a volúpia de viver sem medo, sem amarras ou limites!

As sanguesugas do alheio alimentam-se de uma magia que lhes é estranha, que é Minha! Por isso eu, pela parte que me toca, ouso agora olhá-las nos olhos sem medo, para que vejam o brilho húmido que deles escorre quando estou feliz e percebam que estão a ser espantadas! E que ficam, de agora em diante, entregues a si mesmas e à sua escuridão, para que eu seja livre de prosseguir!...

(foto Andy Bell)