segunda-feira, janeiro 12, 2009

(e)fabula(ção)


Cascos que ecoam na floresta, em noite de lua cheia, convidando a fugas de verde. Silhuetas naturais que se recortam no horizonte e inusitadamente se sobrepõem, pintando quadros improváveis que aguçam o olhar. Trilhos virgens que se inventam no prazer deambulante da descoberta, ao som de galhos que estalam e pios de corujas noctívagas. Brisa agreste que impregna a roupa de cheiro a limpo e a frescura, gelando as bochechas e a ponta do nariz. Agulhinhas finas de ar puro que se espetam nos pulmões e que revigoram o sangue. Universo onírico, de tão belo e real, despertando todos os sentidos com a força da seiva que corre nas árvores. E uma mão quente que outra aperta docemente, caminho agora iluminado com o brilho líquido da ternura que dos olhos se derrama.
Domingo de paz e deambulação em Sintra, privilégio dos deuses, encantamento aventuroso. Remate feliz do dia de brilho e luz azul, na escarpada Adraga de ondas bravias, com vinho tinto a enrubescer os lábios.


(quadro de René Magritte, Le Blanc Seign, 1965)

3 comentários:

paulo disse...

parece-me o passeio por um mundo onírico. Sintra e a Adraga ajudam, sem dúvida. e tenho saudades de andar perdido! tomara eu, tomara eu, tomara eu ser um bicho bravo como tu! não te chego nem aos calcanhares, amiga!
grande abraço

Jorge disse...

Já tinha lido e relido há uns dias... e ficado a contemplar o quadro de Magritte... está ali a praia e a alegria de uma tarde... ainda agora não me ocorre nada mais belo!

Kika disse...

Paulecas, larga o spleen amigo e não digas tolices. Tu fazes viagens fantásticas!
Jorge, a coisa mais bela que me ocorre é a dádiva de ter amigos como tu. Bem-hajas!