quarta-feira, agosto 15, 2007

Transitando


Apesar de todos os esforços que vêm sendo sucessivamente envidados, a sinistralidade em Portugal mantém-se similar. É provável que os acidentes ocasionados pelo excesso de álcool tenham diminuído, o que é positivo e louvável! Mas aqueles que se devem às inconsciências praticadas pelo excesso de frustração quotidiana, de testosterona mal direccionada ou de aselhice, só podem diminuir com civismo e bom-senso. Estes dois princípios deviam ser aliás bem incutidos nas escolas de condução aos aspirantes a encartados.
As últimas medidas implementadas para aumentar a segurança rodoviária têm-nos dado porém muito que pensar. A cidade está minada de radares, de câmaras de vigilância, de mil olhos de vidro que nos perseguem por toda a parte. Resta saber se isso é totalmente positivo ou se, pelo contrário, não esconde algumas armadilhas perniciosas. Quantos de nós, por exemplo, não nos distraímos perigosamente a conduzir para olhar os postes de iluminação na tentativa de vislumbrar o camuflado olho maléfico? E que fazemos naqueles dias em que acordamos tarde e estamos atrasados para chegar ao trabalho? Sujeitamos-nos às duras consequências inerentes ou, pelo contrário, arriscamos a pesada multa? E os taxistas, será que ainda obedecem às velhas máximas "Leve-me ao aeroporto na gáspea!" ou "Siga aquele carro!" sem pestanejar, ou será que nos vão comunicar rispidamente "É você que paga a multa!"? Mais sério ainda será quando tivermos que ir de urgência para o hospital. Como proceder nesta situação? Colocar um lenço branco na janela ou ter à mão uma tabuleta a dizer "Emergência médica"?! Será que as câmaras captam e o juiz nos perdoa? Ou será que nos vai dizer que era obrigatório manter os limites de velocidade a qualquer preço? E no caso de morrermos, a família herdará a contrafacção? Ainda não se conhecem respostas para estas questões, mas que são pertinentes não restam dúvidas.
Parece legítimo então que nos questionemos se estas duras imposições aos limites de velocidade visam realmente proteger os cidadãos ou se não são apenas mais uma das múltiplas estratégias de engordamento dos cofres do Estado. Aqueles cofres que estão sempre vazios apesar dos milhares pagos em inúmeros impostos, contribuições de toda a ordem, taxas diversificadas, multas de todos os tipos, etc, etc. Que acidentes mortais ocorreram em Belém, à beira-rio, para termos que circular a 50km à hora debaixo da estreita vigilância dos radares? Qual é a diferença entre a auto-estrada Lisboa-Cascais e o IC19 para neste termos que circular a 100 ou a 90 consoante os troços? Será porque este tem mais faixas com melhor piso?! Não se compreende... Para já não referir que a constante alteração dos limites de velocidade dentro dos mesmos itinerários nos baralham o cérebro e nos fazem andar sempre à cata de sinalização e de câmaras malignas. Se calhar um dia vão-nos pôr uma câmara em casa para precaver as nossas sandices e minorar os terríveis desperdícios de papel higiénico, vigiar o equilíbrio calórico das nossas refeições de modo a prevenir o excesso de colesterol e poupar nas doenças inerentes ou vigiar o uso de preservativos de forma a precaver o impacto ambiental dos mesmos quando atirados para a sanita ou os prejuízos da sua não utilização devido à contracção de DST, entre tantos outros itens de uma lista infindável que receberemos via correio electrónico. E pensar que os Estado Unidos ainda não assinaram o Protocolo de Quioto, caramba!
Seguindo a boa tradição deste país - onde há lombas nas subidas, passadeiras a seguir a curvas num convite à matança, ausência de sinalização ou sinalização inadequada, buracos do tamanho de crateras sem protecção, semáforos que, quando não electrocutam os peões, obedecem aos seus toques sem intervalos periódicos provocando engarrafamentos descomunais, buracos nas vedações das auto-estradas que permitem a livre circulação de pessoas e animais e outras bizarrias afins (o rol é longo!) - vão pulular agora, que nem cogumelos, painéis similares ao da imagem: proibida a circulação de bicicletas. Será a última medida inovadora no combate ao défice económico da nação, ao qual são alheios a má gestão, a incompetência da classe dirigente, os múltiplos cargos fantasma de direcção de empresas públicas como a Epul com vencimentos milionários ou o despesismo das alterações de quadros aquando das mudanças do Governo, vulgo jobs for the boys, para citar apenas umas ínfimas parcelas de uma lista gigantesca e formalmente comprovada.
Abaixo o único veículo em que o animal puxa sentado! Bicicletas não andam depressa, nem pagam multas chorudas!

(fotos Andy Bell)

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