O sr. Pinto da Costa apaixonou-se um dia por uma mulher consideravelmente mais jovem e de reputação duvidosa, sendo contudo detentor privilegiado de um amplo conhecimento do seu passado e do seu carácter. Não obstante, descartou-se da legítima, que na altura não se coibiu de espernear sonoramente na comunicação social, e presenteou a sua amada com o estatuto de primeira dama. Pavoneou-se com a dita, partilhou cama e confidências, permitiu que esta se imiscuísse nos meandros da sua nebulosa existência. Daí inferirmos que de paixão se tratava, já que não estamos perante nenhum anjinho! Nos tempos áureos, o magnífico casal fervilhava nas páginas da imprensa cor-de-rosa, aparecendo em eventos sociais de relevo, ou bronzeando o esqueleto nas praias do país na companhia dos filhinhos da moça ou tão simplesmente assistindo enlevadamente aos jogos da equipa azul e branca. E, ainda de acordo com estas credibilíssimas fontes, Carolina era uma lady zelosa e Jorge Nuno um senhor que rejuvenescia. No entanto, com o passar do tempo e o estalar do ténue verniz da dita jovem, a relação começou a azedar, tendo para isso contribuído em larga escala a suposta infidelidade da mesma. Não deixa de ser curioso que um indivíduo em cujo currículo público consta pelo menos um caso de airosa troca de companheiras se mostre tão sensível e intransigente perante uma situação análoga, mas isso é já do domínio da flexibilidade ou do egoísmo de cada um. Em suma, a bola de neve não mais parou de rolar e avolumar-se, até culminar na consequente ruptura dos pombinhos e posterior publicação de uma das mais nítidas compilações de javardices redigidas em língua portuguesa. Como se já não nos bastassem as escritoras de cordel e o João Pedro George! Que saudades de Almada Negreiros e do Manifesto Anti-Dantas... Bons tempos!
Não vale pois a pena determo-nos afincadamente na esgrima verbal que este par encetou nos últimos tempos, nem tão pouco dissertar sobre as aquisições literárias dos portugueses ou sobre as prioridades da comunicação social. Ainda assim é sui generis que um indivíduo acutilante, de resposta pronta e aparentemente superior como o sr. Pinto da Costa, cometa a insanidade de dar o flanco, de não camuflar a sua mágoa perante o facto de Portugal saber que sofre de flatulências e, finalmente, de alinhar sem pejo nesta absurda troca de galhardetes de baixo nível. O que é que tem lucrado? De que forma tem reabilitado a sua imagem? Já a ilustre desconhecida que saltou para a ribalta, ganhou um mediatismo com o qual jamais havia sonhado e, não contente com a proeza, trouxe ainda a família a reboque. Proporcionou-nos o inefável deleite de privar com o seu ilustre progenitor, um vulto de relevo no panorama nacional com direito já a entrevista no noticiário das oito, que defendeu aguerridamente esta cria sua prodigiosa. Lamentável é que para tal tenha precisado de lançar a cria desvalida na fogueira da devassa pública da intimidade! De facto o país ficou mais descansado quando soube que o indivíduo repudia esta filha tresloucada que tem borboletado em vão pelas instituições psiquiátricas do Serviço Nacional de Saúde, enquanto louva a que, desolada com a ascensão de prostituta a primeira dama, morde a mão que lhe foi estendida e enfia o esterco no ventilador. Pelos vistos esta última característica é genética (ao contrário da maioria dos portugueses, as moças devem ter bons dentes!) já que Ana havia feito outro tanto ao surgir, novamente em horário nobre, a trincar na sua gémea Carolina a quem teoricamente deve, no mínimo, favores monetários. Tudo muito edificante, sem dúvida!
Para finalizar (?!) em cheio, aparece Pinto da Costa, em declarações recentes, dizendo: "Que credibilidade merece uma mulher que, (...) aos dezoito anos, e sem casamento, teve dois filhos?" A ira toldou-lhe certamente a inteligência pois esta foi afinal uma das afirmações mais abonatórias que poderia ter proferido sobre a ex-companheira. Vamos por partes. Que credibilidade merece um sujeito que, na posse desta e de tantas outras informações análogas, partilha enlevada e publicamente a existência com a dita mulher para posteriormente, atingido por uma imensa dor de corno, transformar as suas anteriores virtudes em incontornáveis e monstruosos defeitos? Por outro lado, que moral imaculada é a sua, que passado é o seu, para vir fazer a sagrada apologia do casamento? Ao que consta não respeitou o seu primeiro enlace matrimonial, nem se coibiu de ajudar a pôr fim ao de terceiros. Por último, quem é que pode deixar de sentir admiração por uma mulher que tem a coragem de colocar dois filhos neste mundo com tão pouca idade? Mereceria então mais credibilidade se tivesse optado por se livrar deles?! E já agora, alguém se preocupou, o sr. Jorge Nuno incluído, com os malefícios que todo este desvario provocou nas ditas crianças envolvidas? Tanto quanto se preocuparam na altura com os filhos do arquitecto Taveira, por exemplo, aqueles que revelaram a sua arrevesada intimidade. Suprema hipocrisia! Mundo cão!
Em suma, o país atravessa uma crise descomunal e quase todos enfrentamos problemas demasiado graves nas nossas vidas a nível financeiro, profissional, educativo e na área da saúde para nos deixarmos embalar com cantigas de escárnio e maldizer. Basta de engodos! Chega de futebol, putas e vinho verde!
(foto Martin Andreasen)
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