quarta-feira, novembro 15, 2006

Invernias



Água que escorre e desfoca. Água que activa o cheiro da terra. Água com música. Água da chuva.
Dias modorrentos e nostálgicos. Escuridão prematura. Frio húmido. Cinzentices... Resistir à tentação da preguiça! Espantar a melancolia...

(foto Martin Andreasen)

sexta-feira, novembro 10, 2006

Cidade XL


O apelo das sextas-feiras é incontornável! O temporário término de uma semana de trabalho, de imposições pagas, de actos de pura prostituição laboral em prol de causas que, maioritariamente, nada nos dizem. A cidade enfim oferece-se, numa imensa panóplia de estímulos aos quais só consegue resistir quem habituou o corpo a rotinas mórbidas de placidez e acomodação. Ou a quem falta ousadia e imaginação para voar mais alto!...
É imperativo mimar o corpo, apurar os sentidos e deixar que a magia da sexta-feira se aposse de nós. O formigueiro de gente gira e perfumada, sedenta de trocas, de copos e de música; as conversas espontâneas; os corpos que se fundem harmoniosamente com o som; a sede de viver e desfrutar em pleno: tudo isto é a noite na cidade! Negá-lo é inútil! Recusá-lo é puro desperdício!
Viver é estar vivo! Estar vivo é interagir em pleno! Por isso é sexta na cidade e nós estamos lá, porque a próxima ainda vem longe e a ampulheta não pára! Quantas mais nos será permitido gozar em pleno?! Na incógnita reside toda a magia desta entrega! Maior e melhor do que a anterior, se tudo correr a contento. Senão outra chegará, não tarda, para reconstruir o puzzle e apurar o desenlace.
Vivamos em pleno! Carpe diem!

(foto Pedro Gonçalves)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Espanta espíritos


A vida é um campo minado onde abundam as sanguessugas do alheio! Elas nunca nos olham de frente, mas chupam-nos a energia anímica com subtilezas ardilosas e deslizam suavemente para outras paragens. São criaturas sórdidas e medíocres que tentam apoderar-se da nossa criatividade para contornar a sua impotência de viver em pleno, vigiando-nos cada passo na expectativa de obter algum proveito. Minam-nos a existência de forma tão subtil que mal damos pela sua presença. Mas sentimos, ainda assim, os seus efeitos nefastos! Deixam-nos a ressacar um colo quente, claridade, ondas do mar... festas de dedos tão suaves que mal nos afloram a pele, mas que nos tocam as fibras mais pequeninas do coração e nos enchem de luz!

Cabe-nos então a nós, bichos bravos, colocar-lhes um travão e remetê-las à sua condição comezinha de meros espectadores sem voz, tristes fantasmas incómodos e dispensáveis. Esta é a nossa primeira cruzada! Denunciá-las, apontá-las a dedo, espantá-las! E sentir a volúpia de viver sem medo, sem amarras ou limites!

As sanguesugas do alheio alimentam-se de uma magia que lhes é estranha, que é Minha! Por isso eu, pela parte que me toca, ouso agora olhá-las nos olhos sem medo, para que vejam o brilho húmido que deles escorre quando estou feliz e percebam que estão a ser espantadas! E que ficam, de agora em diante, entregues a si mesmas e à sua escuridão, para que eu seja livre de prosseguir!...

(foto Andy Bell)