quarta-feira, outubro 29, 2008

A luta continua!




Nada como uma boa movimentação para reanimar os ânimos! O boicote à avaliação da carreira docente começou e promete avançar em força. Menos mal. Entretanto seria maravilhoso deitar a Sra. Lurdes em qualquer destes belos sofás. Porém as cobras ou lhe chamavam mana ou morriam envenenadas ao picá-la. O fogo por certo que se apagaria com tamanha frigidez. Os ovos ficavam automaticamente chocos, o que seria imoral dada a fome no mundo. E os cactos murchavam, ficando inofensivos como rosas secas.
Não foram só as férias que me desabituaram de ser um Bicho Bravo. A verdade é que trabalho tanto que o pouco tempo que me sobra é canalizado para outras actividades. Só quem está no ensino pode genuinamente entender aquilo de que falo. Estamos afogados em burrocracia, submersos em testes, sufocados por centenas de alunos cuja formação está nas nossas mãos (eu disse centenas! Tenho cento e quarenta e oito alunos e tento ensinar trinta pessoas completamente díspares e de várias nacionalidades em simultâneo). E a cereja no topo do bolo é que somos agora vigiados por criaturas cinzentas, pidescas e medíocres que decidiram de repente ser lacaios da ministra (visto que até então nunca tinham sido nada!) e que vão parindo reuniões sistemáticas a ritmo alucinante e exigindo toneladas de documentos que se enfiam em dossiers e ficam a ganhar mofo até serem deitados ao lixo, visto que de lixo não passam. E todos os dias chegam novas directrizes mais castradoras e absurdas, desfasadas da realidade, anedóticas mesmo. Já passámos por diferentes fases: a da indignação, a da acomodação, a da revolta, a do hilaridade... Creio que finalmente chegou a da luta. Quero acreditar mesmo, senão não encontro forças para levar a cruz ao calvário.
Mas as manobras de diversão continuam. A máquina não pára! Agora é a distribuição jorrante de Cagalhães e a interiorização de que caminhamos para o desenvolvimento tecnológico. Quem acredita ainda? Estou em crer que só os mais distraídos ou desinformados, o que é bastante frequente ainda em Portugal. Pois desenganem-se os que pensam que a qualidade do ensino melhorou ou que os professores são um bando de preguiçosos que se borram de medo de ser avaliados. Como consta já neste blogue, eu sou a favor da avaliação. Contudo, jamais nestes moldes persecutórios, arbitrários e ilegais. Nenhuma outra classe é avaliada desta forma e, se tudo correr pelo melhor e as pessoas continuarem a prezar a verticalidade que nos descolou as patas do chão e nos prendou com mãos, a Sra. Lurdes não vai levar a sua avante. A diarreia mental que se apossou do Ministério da Educação, e que nos tem salpicado a todos com maior ou menor intensidade, vai ficar a arroz e bananinhas para ver se estanca. Múltiplas têm sido as escolas a aderir ao boicote e estou em crer que, desta feita, o movimento não vai parar.
Se alguém se julgar no direito de contestar estas palavras faça-me apenas um favor: informe-se, documente-se, fale com propriedade. Para exibições de ignorância alarve já nos chega o beberrão do Sousa Tavares!
Até há relativamente pouco tempo tinha muito prazer e orgulho na minha profissão. Nunca me queixei de nada nem de ninguém. Consegui sempre investir na minha formação pessoal (é preciso receber para poder dar), dinamizar múltiplas actividades extra-curriculares ao longo do ano lectivo e exibir um real semblante de satisfação. Hoje sou alguém que trabalha por obrigação, que anseia pelo fim-de-semana e pelas férias e que apenas nada alterou com os seus alunos, pois trabalhar com seres humanos tem esta contrariedade: não podemos mandar tudo às urtigas. Senão a Sra. Lurdes ia enfiar as suas demenciais directrizes no buraco mais estreito que tivesse no corpo e arranjar outra vítima sobre quem descarregar as suas, por certo, cavalares frustrações.