
Cascos que ecoam na floresta, em noite de lua cheia, convidando a fugas de verde. Silhuetas naturais que se recortam no horizonte e inusitadamente se sobrepõem, pintando quadros improváveis que aguçam o olhar. Trilhos virgens que se inventam no prazer deambulante da descoberta, ao som de galhos que estalam e pios de corujas noctívagas. Brisa agreste que impregna a roupa de cheiro a limpo e a frescura, gelando as bochechas e a ponta do nariz. Agulhinhas finas de ar puro que se espetam nos pulmões e que revigoram o sangue. Universo onírico, de tão belo e real, despertando todos os sentidos com a força da seiva que corre nas árvores. E uma mão quente que outra aperta docemente, caminho agora iluminado com o brilho líquido da ternura que dos olhos se derrama.
Domingo de paz e deambulação em Sintra, privilégio dos deuses, encantamento aventuroso. Remate feliz do dia de brilho e luz azul, na escarpada Adraga de ondas bravias, com vinho tinto a enrubescer os lábios.
(quadro de René Magritte, Le Blanc Seign, 1965)
3 comentários:
parece-me o passeio por um mundo onírico. Sintra e a Adraga ajudam, sem dúvida. e tenho saudades de andar perdido! tomara eu, tomara eu, tomara eu ser um bicho bravo como tu! não te chego nem aos calcanhares, amiga!
grande abraço
Já tinha lido e relido há uns dias... e ficado a contemplar o quadro de Magritte... está ali a praia e a alegria de uma tarde... ainda agora não me ocorre nada mais belo!
Paulecas, larga o spleen amigo e não digas tolices. Tu fazes viagens fantásticas!
Jorge, a coisa mais bela que me ocorre é a dádiva de ter amigos como tu. Bem-hajas!
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