Mesmo num contexto em que os olhos mintam indiferença e o sorriso insinue espontaneidade, enquanto palavras simulam fluir ao ritmo de copos que se esvaziam ou de espirais de fumo que volteiam cinzentas e o corpo se distrai mecanicamente em sintonia com o som, eis que surgem as rasteiras dos beijos para manter a pureza desse instinto primitivo que se não verga à mais rija vontade.
O apelo carnudo de lábios macios e húmidos, a vertigem de múltiplas sensações que nos atropelam, o gozo incomensurável de uma troca tão intensa e particular, transformam os beijos num acto único de partilha e de puro prazer, em que simultaneamente nos conhecemos e nos desvendamos com genuinidade.
Não admira assim que sejam inúmeros os que se tornaram emblemáticos ao longo dos tempos e que fazem já parte integrante do nosso imaginário colectivo, imortalizados nas mais diversas manifestações de arte ou descritos das formas mais poéticas, cruas ou fogosas.
Mas realmente inesquecíveis são os que preenchem as nossas vivências íntimas e nos fazem sentir, com todas as fibras do nosso corpo, que isto de estar vivo é por vezes tão mágico que transborda de nós e nos ultrapassa!
Há beijos que sabem a biscoitos de chocolate...
(quadro de Klimt, O Beijo)