quarta-feira, setembro 21, 2011

Ilusões a 3D

Já partilhei aqui os graffiti de Banksy, antes de ele ter vindo a Lisboa e de se ter dado a conhecer a um público mais vasto no que toca às tugas gentes.
Desta feita descobri Eduardo Relero, outro artista de arte urbana nascido na Argentina, que tem uma visão ainda mais particular do real. Este homem encontra-se numa perspectiva muito terra-a-terra, decorando ruas e pavimentos com figuras anamórficas. Desenha a três dimensões e imprime uma nota satírica e crítica aos seus trabalhos, não totalmente isenta de um certo dramatismo. 
Alguns dos seus desenhos chegam a atingir uma dimensão de doze metros, demorando cerca de três dias a ser concluídos. Mesmo sendo muito assediado por transeuntes curiosos, Eduardo não se deixa intimidar e a única condicionante com que se depara são as condições atmosféricas. 
O seu trabalho desenvolve-se nas ruas da cidade de Sevilha, onde actualmente habita, quase sempre sem licença. Partilha-o através de um blogue e tem alcançado alguma  notoriedade. 
















Grandes tempos estes, em que, para se ser artista, basta usar o pavimento urbano e os recursos informáticos. 

Onirismo surreal














Jacek Yerka nasceu na Polónia em 1952 e realizou estudos superiores em arte e design gráfico. A partir de 1980 passou a ser um artista a tempo inteiro, assumindo a influência de Hieronymus Bosch, Pieter Bruegel, Cagliostro, Jan van Eyck e Hugo van der Goes, dos quais também gosto particularmente.
Mistura paisagens surreais com elementos arquitectónicos oníricos e seres bestiais e o seu imaginário remete-nos para as ilustrações dos contos infantis, revisitadas e alteradas pela sua estética pessoal e extremamente peculiar. 
Tudo começa com um esboço em grafite, que depois é passado a carvão, de seguida colorido a pastel e finalizado com pintura acrílica. A minúcia dos seus desenhos e os detalhes que os povoam são absolutamente deliciosos, um festim para os olhos e para a imaginação.
Enjoy it!

PS - Carregando nas imagens, estas ampliam.

sábado, março 26, 2011

Arte urbana

Kolonihavehus


Jacked Daniels

Tom Fruin, o autor destes trabalhos, nasceu em 1974 em Los Angeles, Califórnia. Vive e trabalha em Brooklin, Nova Iorque.
A reciclagem com fins criativos não é um conceito inovador. Ainda assim, a casa de nome bizarro, que remete para um jardim de Copenhaga, Dinamarca, é extraordinariamente colorida e cativante. Está preparada para ser itinerante e, tendo sido exibida em primeira mão na Royal Danish Library, em Copenhaga, vai passar por vários locais até aterrar num telhado da cidade de Nova Iorque. É feita de acrílico envidraçado, que foi recuperado de uma fábrica que fechou. Apesar da sua aparente aleatoriedade, os painéis estão colocados de forma a criar espaços de luminosidade ou de sombra.
Sempre gostei de vitrais e estar no interior desta casa deve assemelhar-se a entrar num vitral de grandes dimensões, uma sensação, por certo, onírica e diferente.       

quinta-feira, março 24, 2011

É a hora!

             

                     NEVOEIRO 
 
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro... 

  
É a Hora! 
  
                 Fernando Pessoa 

Crónica de uma morte anunciada


De toda a panóplia de opiniões com que hoje fomos bombardeados na comunicação social relativamente ao estado caótico e avacalhado em que se encontra esta nação, retive apenas algumas palavras da única intervenção que me marcou: a de António Barreto na Sic Notícias.
Independentemente do camaleónico percurso político deste indivíduo, que abandonou o PS na década de 90, a verdade é que gosto da forma pragmática como interpreta os acontecimentos e lê nas entrelinhas. 
Começou por salientar que nas constantes intervenções de elementos ligados ao governo tem abundado a expressão "não estamos agarrados ao poder" e o termo "responsabilidade", insistência esta que demonstra quão amargo é perder o poleiro e quão irresponsável foi esta governação, que nos enterrou em dívidas até ao pescoço. Frisou o seu desconsolo pelo "marialvismo" de ambos os líderes políticos, que se enfrentam, usualmente, como se de "uma lide na praça de touros" se tratasse e não do desastroso destino desta nação, tendo o estranho hábito de substituir o diálogo concertado por trocas de galhardetes e surpresas mútuas bombásticas através dos órgãos de comunicação. Analisou a intervenção de Cavaco Silva como "um discurso de boas palavras, mas fora do tempo e da possibilidade de acção". Quanto à postura de Sócrates, afirmou, com ar compungido, que, "se foi um gesto impensado, este homem merece repouso", mas que, na sua óptica, foi apenas mais um braço de ferro ao bom estilo a que nos habituou: ou me seguem de joelhos e não contestam mais nada ou derrubam-me! Entretanto, adiantou que, ou o primeiro ministro quer ir a eleições no papel de vítima, do qual é particularmente aficionado, ou não viu saída para o problema. Assim sendo, "não quis ser despedido, pois sabia que não tinha força, nem competência, nem inteligência, nem integridade, nem capacidade para resolver a crise e enfrentar a Europa." Por fim, acrescentou que "há sinais de muita manipulação e , na verdade, ninguém sabe qual é o real estado das finanças neste país", apelando então ao presidente da república e ao governador do banco de Portugal que esclareçam a nação sobre o estado das finanças públicas, pois se tal não ocorrer antes das eleições "é de uma enorme deslealdade".    
Acima de tudo, acredito nesta parte final e parece-me que vale a pena aguentar com as medidas do FMI, que não devem ser mais duras do que as do PEC IV (apesar de convir a muita gente acenar com esse grande bicho papão!), se isso for sinónimo de ficarmos inteirados das trafulhices, vigarices, escandalosos roubos e tremenda incompetência de quem nos anda a desgovernar há demasiado tempo e a duras expensas. Soltem a caca e liguem o ventilador, que vai espirrar trampa à fartazana para cima de muita gente.
E quando a casa for arrumada, só há uma saída possível, que é mesmo a do velho oeste: alcatrão e penas para cima do bem enfarpelado, no melhor alfaiate de Nova Iorque, pseudo-engenheiro Pinto de Sousa! Ou então somos mesmo uma corja de bandalhos que merecem ser empalados a sangue frio, uns pobres Bibis que vão a tribunal desdizer-se e afirmar que o Paulo Pedófilo afinal não come criancinhas ao pequeno-almoço e que tudo não passou de um grande equívoco. 
Por este andar, ainda passamos a ser conhecidos como República das Bananas habitada por tansos, porque de macacos não temos mesmo nada, excepto esta indolência característica que nos permite aguentar de bico calado tanta macacada! 

terça-feira, setembro 28, 2010

Paga e não bufes!


Foi um longo interregno. Por um lado as férias e a dispersão por outras actividades. Por outro, a necessidade de escrever textos mais longos e de pendor literário. Ainda assim, há desabafos esporádicos que não se podem reprimir, pelo que aqui estou de novo, ainda menos optimista (por incrível que pareça!), como qualquer portuguesa que não consiga manter a cabeça enfiada na areia.
A perspectiva de que as medidas ontem divulgadas pela OCDE para travar a crise possam vir a ser implementadas apavora-me. E não entendo como todos os que me rodeiam permanecem indiferentes, nem como não há quem se revolte ao ter conhecimento de que a EPAL renovou toda a frota de carros topo de gama dos seus executivos com dinheiro do erário público, entre outras dezenas de exemplos constantes de abuso de poder, de má gestão e de flagrante incompetência. E a solução para este buraco sem fundo é sempre a mesma: o ataque vergonhoso ao bolso do contribuinte, também conhecido por roubo em linguagem corrente.
Ainda assim, há talvez uma explicação para este fenómeno de apatia global: à semelhança de quem nos desgoverna, estamos todos apostados em conseguir o máximo de dinheiro oferecendo o mínimo de contrapartidas. Senão vejamos: no domingo estive no encerramento do OutJazz no Jardim das Necessidades, tão degradado que até faz dó, como aliás todo o património que se encontra debaixo da alçada do Estado. Entretanto decidi jantar numa das marisqueiras de Alcântara com alguns amigos que, por acaso, estavam vestidos de forma muito informal, um tanto freak  mesmo. Foi uma experiência surreal! Mal entrámos, um funcionário indicou-nos a mesa junto à porta, o que imediatamente declinei por razões óbvias. Surgiu então outro indivíduo, muito solícito, que nos conduziu à sala contígua onde nos colocou, com um sorriso rasgado, junto à entrada da casa de banho, cujo odor, convenhamos, me levou de imediato a ponderar a ideia de fugir dali para fora a sete pés. Por fim, perante a indignação geral do grupo, apareceu um terceiro sujeito que nos depositou no meio dessa mesma sala, exactamente junto à área de serviço dos empregados. E como às três é de vez, ali permanecemos, se bem que a contragosto. Entretanto fizemos os pedidos e foi preciso ir solicitando o frappé para as garrafas de vinho, as colheres para a caca das sapateiras, os guardanapos para limpar a boca... Chegou uma altura em que alguém rosnou mesmo entre dentes para o empregado um "Veja lá se não quer que o substitua!". Contudo, a parte mais agradável consistiu em o dito senhor, infelizmente obeso, nos presentear com a passagem constante do seu imenso traseiro junto ao nariz para alcançar as mesas de trás, chegando mesmo a dar valentes cusadas em quem estava  nas pontas. Quando já nada parecia poder espantar-nos, eis que um dos empregados, que passarinhava por ali batendo pratos e tinindo garfos, pegou em alguns dos guardanapos da nossa mesa e os utilizou para limpar as mãos. Eu até adoro marisco, mas este começou a ficar entalado na minha garganta! Observei então as mesas em meu redor e apercebi-me que, feliz ou infelizmente, este era o tratamento dispensado a todos os clientes, mesmo àqueles que comiam gordas lagostas ou saborosos lagostins. À excepção de não lhes impingirem as piores mesas do estabelecimento, tudo o resto era similar (provavelmente, acharam-nos demasiado freaks para nos preocuparmos com tal pormenor!). Por fim, para não destoar, tivemos que fazer um último pedido, o dos toalhetes para retirar o odor das mãos, ao que não resisti a acrescentar "E um cérebro  que funcione para o senhor!". No entanto, na hora da gorjeta, o empregado afivelou o seu único e melhor sorriso e perguntou se o jantar nos tinha agradado, tendo a sua dúvida ficado certamente esclarecida com os vinte cêntimos que repousavam junto à conta, demasiado avultada, por sinal, para tão flagrante falta de educação, de profissionalismo e até de senso comum. E assim se vive em Portugal nos dias que correm, o que ajuda a explicar as elevadas taxas de stress e a abundância de maleitas de origem nervosa.
Curiosamente, as pessoas que estavam comigo, apesar do seu ar displicente, eram maioritariamente estrangeiras e todas possuem formação superior em diferentes áreas. Ficaram também, mais uma vez, doutoradas quanto ao atendimento lusitano, aquele que afugenta constantemente os turistas da costa algarvia. Recordo, a propósito, um jantar recente em Lagos em que o peixe era inexplicavelmente horroroso, o pão era seco, o vinho sabia a rolha, as entradas eram surradas e a empregada atirava com tudo para cima da mesa barafustando que, pela terceira vez naquela noite, um grupo tinha fugido da esplanada sem pagar a conta. Apeteceu-me sair também de fininho com o meu dinheiro no bolso e dar tréguas ao estômago dali por diante.
Parte curiosa: estive na Croácia e percebi claramente, com imensa tristeza, que não vale a pena gastar o nosso suado carcanhol neste país à beira-mar plantado. Espero que outros cidadãos de diferentes nacionalidades demorem mais tempo a constata-lo, senão é que a nossa economia vai ao charco de vez.
Quando lemos que em Lisboa se paga a mais elevada taxa de parquímetro da Europa ou  quando nos anunciam que até o aconselhamento nas farmácias passará a implicar o respectivo pagamento, sinceramente começo a achar que morrer afinal fica mais barato e só custará dinheiro aos que cá ficam.
       
 

terça-feira, abril 06, 2010

Evasões de qualidade

Burj Al Arab

 
 Burj Khalifa Bin Zayid

Vamos sonhando com melhores dias, no Burj Al Arab, este hotelzito de 7 estrelas no Dubai. Com 321 metros, é a mais alta estrutura do mundo utilizada exclusivamente como hotel, pois o Burj Khalifa Bin Zayid, também no Dubai, é o maior arranha-céus construído pelo homem até então, com 828 metros de altura.
O Burj Al Arab foi inaugurado em Abril de 2008 e custou 650 milhões de dólares. A ideia subjacente à sua construção foi a de que este edifício se tornasse emblemático do Dubai, tipo a Torre Eiffel ou a Ópera de Sidney que imediatamente associamos ao local em que se encontram. O hotel tem 60 andares, 18 elevadores e 202 suites duplex (só suites!), das quais se pode desfrutar a partir de 1.400 euros de diária. 
Gostar ou não da decoração e do luxo ostensivo deixo ao critério de cada um.  Contudo, há um aspecto que me desagrada profundamente e que não posso deixar de criticar: veja-se na 16ª foto um banal rolo de papel higiénico branco. Imoral! Num hotel desta categoria seria de esperar, no mínimo, que o papel fosse de seda ou então que se lavasse o rabinho com água de malvas à ilustre clientela. Afinal, uma noite de estadia custa mais de três salários mínimos portugueses, certo?