terça-feira, abril 22, 2008

Abril do nosso descontentamento


Várias figuras do PS assinaram um documento emitido pela Associação 25 de Abril, que apela à participação no desfile do 25 de Abril e faz uma análise crítica à situação do país. O "Apelo à Participação", divulgado ontem pela Associação em questão, conta com a assinatura de diversas figuras do PS, entre os quais Mário Soares, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues, Almeida Santos ou Maria de Belém Roseira. Ao longo do documento pode ler-se que "as incertezas de uma conjuntura económica, afectada pela eclosão e desenvolvimento de várias ordens de crises e, no plano interno, pela permanência dos problemas estruturais de que o país continua a padecer, fazem com que as comemorações do 25 de Abril de 2008 se processem num clima pouco desanuviado e escassamente propício à jubilação colectiva".
"Numa altura em que os diversos índices sociais e económicos continuam a remeter-nos para os últimos escalões da Europa Comunitária, não poderá haver lugar para o enfraquecimento dos serviços que cabe ao Estado assegurar", refere ainda o manifesto emitido pela Associação 25 de Abril.

Público
on-line



Hoje há autocensura, pior do que a censura. Há medo instalado nas pessoas e falta de coragem para exercer a liberdade de expressão.


António Marinho Pinto, Correio da Manhã


Parece que a velha guarda do PS não se enquadra no grupo dos tementes Socretinos acima referido. A ver vamos se não lhes sai o tiro pela culatra, pois hoje em dia estamos preparados para assistir a toda e qualquer manifestação de prepotência por parte do Executivo. Até seria delirante se o PS entrasse numa crise interna, à semelhança do seu mais directo rival, o actual PSD, agora também conhecido como Partido Sem Dirigente. Podia ser que todos nos convencêssemos, e eu já o estou, de que este país não tem quem o governe, só quem o desgoverne e, desta feita, com pata de ferro em cima de quem trabalha. Toca a bulir e bico calado, senão... Se calhar um dia destes estamos a voltar ao Limoeiro! Pode ser que assim surjam poetas, iluminados, mártires, gentes cheias de empenho para melhorar a nossa jangada de pedra que tão à deriva e tão pobre de cérebros se encontra.



quarta-feira, abril 16, 2008

Peculiaridades lusas (versão automobilística)


Interrogo-me muitas vezes:
- Por que razão há lombas nas subidas? Irra!
-
O que leva os condutores a acelerarem em cima dos semáforos que disparam com a velocidade de modo a que tenhamos que parar gratuitamente enquanto eles se piram? A boa e velha versão do "Toma, toma!"?
- Qual é a lógica de encontramos tantas passadeiras a seguir a curvas? Matar mais e melhor?
- Por que razão os automobilistas aceleram quando queremos entrar num cruzamento para abrandarem logo de seguida? Fossangueiros!
- Por que motivo as senhoras condutoras raramente agradecem uma gentileza que lhes façamos? Serão de Hollywood?
- Por que cargas de água os peões nos obrigam a parar com ar indignado quando não há mais nenhum carro atrás de nós? Será que pensam "Aguenta ó tu que andas de cu tremido!"?
- Que diabo têm na cabeça os tipos que atravessam a passadeira a tourear os automóveis com ar de matadores? Ou aqueles que empurram meio metro o carrinho do bebé para nos assustarem? Ou os que desfilam como se estivessem na passadeira vermelha do Teatro Kodak em noite de Óscares? Brita e serradura no lugar de miolos!
- Será que os donos dos cães que os deixam urinar nas jantes dos nossos automóveis não têm veículo próprio? Ou será que os enfiam sempre na garagem? "Alivia-te aí bicho que é melhor do que lá na sala de estar!"
- Por que razão inventam tudo para nos extorquir o nosso parco dinheirito, nomeadamente os parquímetros e a limitação de uso dos mesmos? E com que justiça nos multam quando não temos moedas ou ultrapassámos o tempo limite por estar a enfrentar a broca do dentista? "Passa p'ra cá a guita e não bufes!"
- Por que motivo temos de pagar parque quando vamos à praia? Já não chega enfrentar o trânsito, pagar as casas de banho, o guarda-sol, as cadeiras, o jornal, o protector, as gaivotas e a bola de Berlim?
- Qual é a lógica de nos bloquearem a roda do automóvel e de nos obrigarem, por acréscimo, a ter telemóvel para efectuar uma chamada que pode tardar a ser atendida e é a nossa única hipótese de resolução do problema? E se for de noite num sítio perigoso? E se estivermos numa situação de emergência? E de nos fazerem depois esperar um mínimo de duas horas por não haver pessoal suficiente para dar vazão à tarefa de desbloquear rodinhas? E de nos forçarem ainda a ter cartão multibanco para pagar? Já agora, que tal pagar as multas via Internet? Os idosos agradecem!
- Para que servem as inspecções automóveis se andam por aí chassos a desmontar-se e a poluir o ambiente à força toda? Ah, claro, o desalinhamento de
cinco milímetros dos faróis dianteiros é muito mais nefasto!
- Por que motivo os polícias não embirram com as motas de escape solto que nos massacram o cérebro e lixam os tímpanos? Terão acordos com otorrinos?
- Como é que há canais televisivos que entrevistam autores de carjacking com máscaras e voz distorcida? Serão primos deles?
Viva os transportes públicos, as bicicletas, os carrinhos de mão e os de rolamentos!
Viva o ambiente!
Viva o boicote à subida chula dos combustíveis!

(foto da Expo, Jardim da Água)

Senhor, falta cumprir-se Portugal!


SEGUNDA PARTE: MAR PORTUGUEZ

Possessio maris.

I. O INFANTE


Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portuguez
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!




Mensagem
, Fernando Pessoa


(quadro de Salvador Dali
, A Persistência da Memória)

segunda-feira, abril 14, 2008

25 de Abril sempre!


(A Bola, 06-06-74)

(Nikias Skapinakis)

(Vieira da Silva)

(autor desconhecido)

(Sérgio Guimarães)

(José Rodrigues)

Natália Correia

SONETO DE ABRIL

Evoé! de pâmpano os soldados
rompem do tempo em que Evoé! a terra
salvé rainha descruzando os braços
com seu pé de papiro pisa a fera.

Na écloga dos rostos despontados
onde dos corvos se retira a treva,
de beijo em beijo as ruas são bailados
mudam-se as casas para a primavera.

Evoé! o povo abre o touril
e sai o Sol perfeitamente Abril
maravilha da Pátria ressurrecta.

Evoé! evoé! Tágides minhas
outras vez prateadas campainhas
sois na cabeça em fogo do poeta.

(Inédito)


É tempo de pensar a nova revolução.
Acordai gentes lusas, que a pátria vai a pique e nós levados no arrastão!